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Represa explica "sumiço" do nível do mar
Para os que ainda são céticos quanto à nossa responsabilidade quanto ao aquecimento do planeta.
Folha online de 14 de março de 2008
Boa parte dos cientistas que estudam os efeitos do aquecimento global se divide em dois grupos: os que acham que a situação é pior do que se imagina e os que acham que ela é muito pior. Um estudo publicado ontem na revista Science dá razão ao segundo grupo.
Três pesquisadores de Taiwan afirmam que a contribuição do degelo polar e das montanhas para a elevação global do nível do mar é muito maior do que o estimado pelo IPCC, o painel de climatologistas das Nações Unidas.
O problema é que essa elevação não é observada nas medições do nível do oceano, e o trio diz que sabe por quê: a culpa é das represas.
Uma série histórica de dados obtida pelos cientistas revelou que, ao longo dos séculos 20 e 21, a humanidade “seqüestrou” em 29.484 reservatórios 10.800 quilômetros cúbicos de água. Isso bastou para reduzir o nível dos oceanos nesse período em 3 centímetros.
Não fosse essa água retida, o nível do mar teria subido 2,46 milímetros por ano nos últimos 80 anos em vez do 1,7 milímetro anual observado desde o começo do século 20 e computado no Quarto Relatório de Avaliação (AR4) do IPCC, publicado em 2007.
“Isso exige uma contribuição significativamente maior de outros fatores (naturais e antropogênicos) para a elevação global do nível do mar”, escrevem os autores, liderados por Benjamin Chao, da Universidade Nacional Central.
Fechando a conta
A elevação do nível do oceano atribuída ao aquecimento global é causada por dois fenômenos: a chamada expansão térmica (água mais quente tende a ocupar um volume maior, como sabe qualquer pessoa que já tenha fervido água) e o derretimento das geleiras de montanha (Alpes, Andes e Himalaia) e dos mantos de gelo da Antártida e da Groenlândia.
Estranhamente, no entanto, essa elevação não tem sido constante como era de esperar caso o aquecimento global fosse o principal culpado pelo fenômeno. As observações mostram que ela aparentemente acelerou e desacelerou ao longo das décadas: foi mais lenta antes dos anos 1930, acelerou até 1960, desacelerou de novo até 1990 e voltou a acelerar.
Chao e seus colegas dizem que essa variação é “artificial”. Se o volume da água retida em represas for computado, “fica evidente que o nível global do mar subiu a uma taxa constante desde 1930”. Ou seja, o gelo não parou de derreter desde então.
“Agora a conta fecha”, disse à Folha o glaciologista Fransico Eliseu Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Esse trabalho dá um argumento novo e relevante para explicar por que o nível do mar não subiu mais.”
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