Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Se você acha que o aumento de um grau na temperatura é pouco, leia isto
Algumas pessoas zombam do aumento de um grau na temperatura, dizendo que ninguém vai realmente sentir a diferença entre um dia de 30 graus e um dia de 29 graus. Você pode até não reparar na sensação térmica, mas esta mudança é suficiente para alterar radicalmente a forma como vivemos.
Quanta diferença um grau pode causar? Há um lugar no mundo onde podemos procurar a resposta – e ele fica no Brasil.
Um novo estudo na revista Nature Climate Change olha para Mato Grosso, uma potência agrícola em ascensão no país e no mundo – 10% de toda a soja do planeta vêm de lá. Esta é também uma área que vem passando por um aumento rápido na temperatura.
Pesquisadores das Universidades Brown e Tufts analisaram dados de MT desde 2002 para ver o que já aconteceu devido a esse aquecimento. Eles descobriram que, para cada grau Celsius de mudança na temperatura, o rendimento das colheitas de soja e milho despenca entre 9 a 13%.
Essas quedas no rendimento são maiores que em outros estudos anteriores de mudança climática. Por quê? Porque a mudança nas temperaturas não afeta apenas o solo e as plantas, como também o nosso comportamento.
Quando as condições mudam, as fazendas não continuam simplesmente do mesmo jeito. Os agricultores tentam se adaptar às condições atuais decidindo o que plantar, quanto plantar, e quantas vezes:
Por exemplo, os agricultores podem reagir a rendimentos em queda plantando numa área menor de terra, porque não seria rentável dedicar mais espaço à atividade. Os agricultores também podem variar o número de culturas que plantam na estação.
O plantio duplo – isto é, plantio de duas safras sucessivas no mesmo campo e na mesma estação – é comum em Mato Grosso. Se o tempo estiver ruim, os agricultores podem não plantar uma segunda colheita.
Se a situação estiver ruim o bastante, eles podem simplesmente decidir que não será rentável o suficiente realizar certos plantios – e é exatamente isso o que os dados mostraram.
Os pesquisadores usaram dados de satélite da NASA para um olhar mais atento, e viram que o aumento de 1°C também reduz a área plantada e o plantio duplo. Na verdade, quase toda a queda na produção (70%) não foi devido a rendimentos menores, e sim devido a culturas não-plantadas.
“Se tivéssemos olhado apenas para o rendimento, como faz a maioria dos estudos, não teríamos visto as perdas de produção associadas a estas outras variáveis”, diz Leah VanWey, professora da Universidade Brown, em um comunicado.
Isso sugere que a mudança climática está tendo um efeito ainda maior sobre a oferta de alimentos no mundo, e a situação deve se agravar: o estado de Mato Grosso, por exemplo, deve ficar 2 graus mais quente até 2050.
Áreas diferentes reagem ao aumento da temperatura de formas diferentes, mas há aqui uma lição maior sobre o clima que se aplica a diversos lugares – inclusive fazendas, onde um único grau é suficiente para mudar a forma como as plantas crescem.
[Nature Climate Change via Brown University]Fonte – Ria Misra, Felipe Ventura. Foto Andre Penner/AP; mapa Brown University/NASA / Gizmodo Brasil de 8 de março de 2016
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