Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Se você ingere adoçantes de baixa caloria, talvez tenha tendência para engordar
Torrões de açúcar. PIXABAY
Pesquisa revela que as pessoas que consomem essas substâncias com frequência têm maior risco de obesidade, diabete tipo 2, hipertensão e doenças cardíacas que as que não consomem
Tomar bebidas com adoçantes de baixa caloria não ajuda a perder peso – e pode inclusive ser prejudicial para a saúde. É o que revela um novo estudo publicado na revista especializada Canadian Medical Association Journal. Os pesquisadores, que revisaram um bom número de estudos, descobriram que as pessoas que consomem com frequência esse tipo de substância (como o aspartame, a sucralose e o esteviosídeo) costumam ter maior risco de aumento de peso, obesidade, diabete tipo 2, hipertensão e doenças cardíacas que as que não consumem.
A obesidade é um problema mundial cada vez mais amplo, e a suspeita é que o consumo excessivo de açúcar seja um dos principais fatores dessa trajetória nefasta. Numa tentativa de evitar seus efeitos prejudiciais à saúde, as pessoas têm optado por adoçantes de baixa caloria, cujo consumo aumentou significativamente nos últimos anos. E a previsão é que a tendência continue.
No entanto, uma série de estudos recentes – entre eles, com animais – indica que essas substâncias possivelmente não sejam saudáveis. Por exemplo, há provas de que elas poderiam afetar negativamente o metabolismo da glicose, os micro-organismos benignos e o controle do apetite. Mas estudos pequenos e individuais nem sempre oferecem uma imagem completa. Assim, para entender melhor o impacto dos edulcorantes na saúde, os pesquisadores deste último trabalho realizaram uma revisão sistemática utilizando uma metanálise. Ou seja: reuniram informações dos melhores estudos que encontraram e voltaram a examinar os dados combinados, a fim de gerar estatísticas mais confiáveis.
A revisão analisou dados procedentes de sete testes controlados randomizados (o “padrão-ouro” dos ensaios clínicos) e 30 estudos observacionais. No total, foram 400.000 participantes.
“Os adoçantes de baixa caloria estão presentes hoje numa gama de alimentos, incluindo iogurtes, molhos, doces e ‘barrinhas saudáveis’.”
Os testes, que incluíam 1.003 pessoas acompanhadas por seis meses em média, não mostraram de maneira precisa que os edulcorantes de baixa caloria ajudam a controlar o peso. Os estudos observacionais, em que o seguimento médio foi de 10 anos, descobriram que quem tomava com frequência bebidas com adoçantes de baixa caloria (uma ou mais por dia) tinha maior risco de aumento moderado de peso, assim como de hipertensão, síndrome metabólica, diabete tipo 2 e doenças cardíacas (incluindo o infarto).
Os testes controlados randomizados podem demonstrar a relação de causalidade entre ambos os fatos, mas os estudos observacionais mostram apenas que existe uma conexão. Portanto, temos que tratar as descobertas destes últimos com maior cautela, pois pode ser que haja outros fatores (denominados “de confusão”) que expliquem as conexões. Por exemplo, é possível que os indivíduos mais gordos consumam bebidas com edulcorantes de baixa caloria para perder peso, e não que o consumo dessas bebidas seja a causa do aumento de peso.
Por outro lado, o estudo só diz respeito a bebidas que contêm essa classe de edulcorantes, não à sua ingestão em outros alimentos. Atualmente, essas substâncias estão presentes numa gama de alimentos, incluindo iogurtes, molhos, doces e “barrinhas saudáveis”. Até mesmo em muitas marcas de pasta de dente. Desse modo, é possível que os participantes dos estudos observacionais que declararam que nunca tomavam bebidas com edulcorantes de baixa caloria os consumissem através de outros produtos.
O que acontece se compararmos com o açúcar?
Os iogurtes costumam conter edulcorantes baixos em calorias. SHUTTERSTOCK
Infelizmente, nenhum dos estudos da revisão comparava o consumo de edulcorantes de baixa caloria com o de bebidas açucaradas. As pesquisas anteriores mostraram claramente que há uma estreita relação entre o incremento do consumo de açúcar e o aumento da obesidade no mundo. Outros trabalhos concluíram que consumir bebidas açucaradas está relacionado com um maior risco de sofrer diabete tipo 2 e doenças coronárias, sem importar o peso.
Fica cada vez mais evidente que o açúcar é muito ruim para a saúde. Em consequência, parece lógico supor que, se o açúcar rico em calorias for substituído por um adoçante baixo em calorias, reduziremos o risco de aumentar de peso, bem como de ter diabete tipo 2 e doenças cardíacas. Porém, esse estudo recente indica que pode não ser assim.
É possível que as provas contra os edulcorantes de baixa caloria não sejam claras como a água. Mas, se a recente revisão estiver certa, seria melhor evitá-los. Talvez o que precisamos fazer é deixar de consumir com frequência os alimentos doces em geral, seja qual for a substância usada para adoçá-los.
Rachel Adams é professora de ciências biomédicas na Universidade Metropolitana de Cardiff.
Cláusula de divulgação: Rachel Adams não trabalha para nenhuma empresa ou organização que possa se beneficiar desse artigo, não as assessora, não possui suas ações nem recebe financiamento. Tampouco declara outros vínculos relevantes além do cargo acadêmico mencionado.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site The Conversation.
Fonte – El País de 01 de agosto de 2017
Este Post tem 0 Comentários