A resposta é sim, eles se importam. O governo do país vem tentando se posicionar como líder internacional do combate ao aquecimento global e, segundo pesquisas recentes, suas ações têm recebido bastante apoio da população. Em uma pesquisa nacional de opinião realizada no ano passado, 94,4% dos entrevistados afirmam que as mudanças climáticas são reais e 66% acreditam que sua causa principal são as atividades humanas.
Foram conduzidas duas pesquisas de opinião sobre o tema: uma pelo Centro da China para a Comunicação sobre Mudanças Climáticas (China 4C), em 2017, e outra pelo Programa Inovador de Desenvolvimento Verde, ou iGDP, na sigla em inglês, este ano. Os dados revelaram que as atitudes da população chinesa em relação às mudanças climáticas estão sendo moldadas por grandes campanhas do governo e por sua preocupação a respeito da poluição do ar.
Governo em destaque
Uma série de políticas e campanhas nacionais foram lançadas na China para tentar dissociar a ideia de crescimento econômico de seus efeitos indesejáveis, como emissões de gases de efeito estufa. O esforço começou depois da Cúpula do Clima em Copenhague, em 2009, quando a esperança de alcançar um acordo internacional para o combate às mudanças climáticas foi destruída, e as questões ambientais locais, como a poluição do ar, tornaram-se mais urgentes.
O governo lançou campanhas amplamente divulgadas pela mídia local, para promover a conservação de energia e o desenvolvimento de programas de baixo carbono, bem como estilos de vida que respeitassem o meio ambiente. Assim como aconteceu quando a China ajudou a forjar o Acordo Climático de Paris em 2015, essas ações foram aclamadas no país.
Por isso, não é de surpreender que os entrevistados do levantamento do iGDP tenham respondido de forma quase unânime que é do governo o papel mais importante no combate às mudanças climáticas. Em uma escala de 1 a 5, o governo obteve nota 4.11, seguido pela mídia, grupos ambientalistas, indivíduos e empresas.
A mesma lógica garantiu apoio da população para que o governo limitasse as emissões de gases de efeito estufa (97%) e permanecesse no Acordo de Paris (94%), de acordo com o iGDP.
Apesar disso, ao analisar as respostas, é importante ter em mente que os respondentes podem não ter entendido as perguntas de forma clara. Jia Hepeng, ex-editora-chefe da Science News, apontou, por exemplo, que as pessoas podem sentir alguma dificuldade na hora de diferenciar entre as metas de redução de carbono e as metas de redução de intensidade de carbono – o último conceito se refere à quantidade de carbono emitida em relação ao Produto Interno Bruto.
Outra questão é que as políticas públicas podem ter impactos radicalmente diferentes em níveis socioeconômicos diferentes. O iGDP fez uma pesquisa de opinião a respeito das cidades de baixo carbono que parece confirmar isso: 83% dos entrevistados afirmaram que já “tinham ouvido falar” do conceito de transição para o baixo carbono, mas apenas 29% afirmaram que estavam “muito bem informados” sobre o assunto.
Ligação com a poluição do ar
Os chineses veem uma ligação forte entre as mudanças climáticas e poluição do ar. Em uma pesquisa realizada pela China 4C, 72,6% dos entrevistados afirmaram que as duas questões estão relacionadas. Eles também declararam que o risco climático que mais preocupa é uma possível queda na qualidade do ar, seguida do aumento do risco de doenças, estiagens, enchentes, derretimento de geleiras, fome e escassez de alimentos. Os números podem ser resultado da dependência chinesa no carvão como fonte primária de energia, o que naturalmente preocupa as pessoas, já que a poluição do ar afeta diretamente a saúde da população.
Na pesquisa do iGDP, a qualidade do ar foi considerada o aspecto mais importante em um programa de baixo carbono, seguido do transporte público, níveis de consumo de água e tratamento dos resíduos. Os moradores de cidades maiores, como Pequim e Guangzhou, são os menos satisfeitos com o cenário atual.
Passos menores, porém mais populares
A pesquisa do iGDP também pediu para os entrevistados chineses criarem um ranking das ações que eles adotariam para combater as mudanças climáticas. Os chineses se mostraram favoráveis ao uso do transporte público e à coleta seletiva do lixo, mas demonstram um entusiasmo muito menor para mudanças de comportamento mais substanciais, como comprar carros de baixa emissão ou mudar a alimentação.
Na hora de colocar a mão no bolso para fazer a diferença, o público chinês se mostrou aberto a gastar dinheiro para compensar as emissões de carbono. Mais da metade dos entrevistados afirmou que gastaria mais de 100 yuans (US$ 15) por ano para fazer isso. Isso confirma os resultados dos levantamentos anteriores, que revelaram que os consumidores chineses urbanos estavam dispostos a pagar mais por eletricidade de fontes renováveis. Combinado ao aumento do poder aquisitivo dos consumidores chineses, isso significa que há abertura para iniciativas de baixo carbono.
Sobre as pesquisas de opinião
A pesquisa de opinião intitulada “Mudanças climáticas entre os chineses”, de 2017, foi realizada pelo China 4C por meio de entrevistas telefônicas assistidas por computador. Um total de 4025 pessoas com idades entre 18 e 70 anos foram entrevistadas através do celular (84,6%) e do telefone fixo (15,4%). A pesquisa incluiu moradores de 336 cidades chinesas.
A “Pesquisa de percepção pública sobre cidades de baixo carbono” foi conduzida pelo iGDP, um think tank chinês, em 2018, como parte da sua pesquisa Índice verde e de baixo carbono para as cidades, ou LOGIC, na sigla em inglês. O LOGIC é um ranking do desempenho de 115 cidades chinesas. Das 20 cidades que obtiveram a nota mais alta, foram selecionados dois mil moradores para a pesquisa. Os entrevistados que tinham entre 18 e 55 anos responderam as perguntas online; aqueles com idades entre 56 e 70 anos foram entrevistados offline.
Este artigo foi originalmente publicado por chinadialogue
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