Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Sim, todos nós precisamos das abelhas
Onde estão as abelhas, os principais polinizadores do planeta? Quantas vezes temos ouvido esta pergunta nos últimos anos se acentuando cada vez mais, desde os anos 90? O desaparecimento ocorre gradativamente por causa da intervenção humana, isso já é uma constatação. Mas o que está sendo feito para remediar esta situação? Afinal, o resultado deste desequilíbrio é a instalação de uma zona de perigo que afeta a biodiversidade, a produção de alimentos, ou seja, a própria manutenção da vida. Os fatores de risco envolvem a utilização dos agrotóxicos nas lavouras, o desmatamento, as queimadas e os efeitos acumulativos do aquecimento global. Neste efeito dominó, há aparecimentos de vírus letais nos insetos e algumas ações isoladas são destacadas no mundo, mas insuficientes para a proporção do problema.
Hoje já existe a denominação mundial – Síndrome do Colapso das Abelhas, que tem sido estudada por vários centros de pesquisa em diferentes continentes, dos EUA à Europa. Uma das iniciativas em curso desde 2010,é o Projeto Global GEF/PNUMA/FAO Conservação e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentável por meio da Abordagem Ecossistêmica. Além do Brasil, está sendo executado na África do Sul, em Gana, na Índia, no Nepal, Paquistão e no Quênia. Entre as principais culturas, estão as de algodão e castanha-do-brasil. Por aqui, o Ministério do Meio Ambiente participa por meio do Projeto Polinizadores do Brasil.
Pelo menos, mais de 800 culturas dependem destes insetos. E a população mundial acima de 7 bilhões de pessoas segue para um contexto de 10 bilhões até os anos 2050. Então, a pergunta que não cala: como prover a alimentação para todos?
Neste ano, o assunto começou a ganhar corpo, inclusive, para a construção de uma política específica no Brasil. Segundo Rosa Lemos, representante do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), em alguns casos, a presença dos polinizadores significa aumento de produção em até 70%. No país, uma das espécies com maior ocorrência é a abelha sem ferrão (Meliponina). Em algumas regiões, a sua presença caiu em 90%.
No campo da campanha, uma das mais conhecidas por aqui é “Sem Abelha, sem alimento”. O filme publicitário No bee no food, produzido para o Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, Rio Grande do Norte (Cetapis/UFERSA), teve reconhecimento no Festival Internacional de Criatividade do Cannes Lions. À frente da mobilização está o professor Lionel Segui Gonçalves, docente no Departamento de Ciências Animais da instituição.
O especialista levanta a bandeira contra o uso de pesticidas, os apontando como uma das principais causas desse decréscimo populacional das abelhas, que no Brasil, vem atingindo com maior proporção, os estados do Piauí, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo.
O que se percebe é que o modo de relação do ser humano com a natureza traduz as externalidades responsáveis por esse quadro crítico, que afeta a todos indistintamente. As mudanças de paradigma de desenvolvimento são necessárias para que haja mudanças substanciais. Para isso, as políticas públicas têm de ser coerentes em seus vários segmentos, para que propósitos antagônicos não representem um desenvolvimentismo que não tem como princípio a qualidade de vida, mas um imediatismo de cifras em detrimento da essência, do que realmente vale. Sim, todos nós precisamos das abelhas…
Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 23 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (http://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
Fonte – EcoDebate de 09 de setembro de 2015
Imagem – Sorbus sapien
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