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Sociedade de risco – I

Os 20% dos terráqueos mais ricos consomem 80% de toda matéria-prima e energia produzidas anualmente. A mais elementar aritmética demonstra que seriam necessário 5 planetas para dar a todos o estilo de vida que essa minoria desfruta.

A coisa não tende a melhorar: estudos sinalizam para uma taxa de 20% da população mundial morando em favelas, até o ano de 2020.

A exclusão crescente desta significativa parcela da humanidade é a mesma que obriga, por exemplo, um agricultor descapitalizado cortar a mata ciliar de sua propriedade para vendê-la como carvão. Mesmo sabendo que está cortando os dedos, após já ter cedido os anéis, ele o faz porque o instinto de sobrevivência é mais forte que qualquer lógica preservacionista.

Este, e incontáveis fatos similares, demonstra que equilíbrio ambiental e exclusão social são incompatíveis. Pobreza e equilíbrio ambiental não casam. Não podem caminhar juntos. Impossível querer um mundo equilibrado imaginando que a problemática ambiental será resolvida pela ciência e pela tecnologia. A questão ambiental é uma questão social.

Por outro lado, a apropriação da natureza, por parte da outra parcela da humanidade, é realizada com o intuito de acumular. Esta apropriação distribui de forma desigual os benefícios e os prejuízos resultantes. E, quanto mais globalizado o mundo, mais global se torna este modelo. Não é mais uma cultura, em um reinado longínquo, quem pratica toda sorte de estupidez ambiental. Nem mais outra cultura, que tem para com o mundo vivo o necessário respeito que os fazem uno.

Agora, no planeta globalizado, as culturas mesclam-se. Fundem-se aos mercados emergentes. Embaralham seus tempos biológicos com o tempo histórico das novidades científicas e a tecnológicas. Dessa verdadeira sopa cultural emerge um modelo único de exploração de recursos naturais: ambientalmente predatório e socialmente excludente.

Um exemplo nacional é o do empresário rural. Enquanto aquele agricultor descapitalizado destruía sua propriedade para comer, este a consome para acumular. O faz quando, por exemplo, substitui por capim parte da Floresta Amazônica, com o intuito de criar boi, produzindo o bife mas caro do planeta.

Equilíbrio ambiental e concentração de riquezas também são incompatíveis. Não podem, à exemplo da exclusão social, caminhar juntos. Uma vez mais, a questão ambiental é uma questão social.

Os riscos ambientais do planeta decorrem da própria intervenção humana.

Embora nossos genes estejam impregnados de mensagens instintivas que nos opõe ao mundo natural (medo de fogo, pavor de cobra, receio de escuro) já não é mais contra a natureza que devemos lutar. É em oposição às concepções e atitudes da sociedade humana que devemos nos bater. São elas que colocam em risco a sobrevivência da civilização e do próprio planeta.

Somos uma verdadeira sociedade de risco.

Mas, de que forma devemos nos contrapor ao risco? Através de um novo sistema de normas, de um novo sistema de valores, de um novo sistema que codifique uma nova moral e novos preceitos éticos.

O braço da depredação não se move por si. Ele, como todas as ações humanas, só se movimenta porque determinados conceitos o impulsionam.

Então, se queremos reduzir os riscos, tratemos de modificar os conceitos.

E rápido!

No próximo “recado” vou dar a minha opinião sobre estes conceitos.

Fonte – Luiz Eduardo Cheida, médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

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