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Terras raras no centro da batalha do Ocidente para conter a China

O que aconteceria se a China bloqueasse amanhã aos Estados Unidos e à Europa o acesso a minerais essenciais para a fabricação de veículos elétricos, turbinas eólicas e drones, que são produzidos principalmente em seu solo?

Numa altura em que são frequentes os atritos econômicos e geopolíticos entre estas três potências, Washington e Bruxelas querem evitar este cenário reinvestindo no mercado das terras raras,

aqueles 17 minerais com propriedades únicas que hoje são largamente extraídos e refinados na China.

Alguns, como o neodímio, o praseodímio e o disprósio, são cruciais na fabricação de ímãs usados nas indústrias do futuro, como energia eólica e carros elétricos.

Outros têm usos mais tradicionais, como o cério para o polimento de vidro e lantânio para catalisadores automotivos ou lentes ópticas.

Smartfones, telas de computador ou lentes telescópicas também usam terras raras.

Foto de 2012 de uma refinaria de terras raras perto de Baotou, na China, líder mundial do setor

© Ed Jones Foto de 2012 de uma refinaria de terras raras perto de Baotou, na China, líder mundial do setor. 

Em 2019, os Estados Unidos fizeram 80% de suas importações de terras raras da China, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos.

E a União Europeia abastece-se em 98% no país asiático, segundo relatório da Comissão Europeia de setembro de 2020.

Isso é o suficiente para preocupar Washington e Bruxelas, em plena transição energética.

“O crescimento exponencial da demanda que é esperado por minerais relacionados às tecnologias verdes os força a examinar suas vulnerabilidades e agir”, comentou à AFP Jane Nakano, pesquisadora do Centro Internacional de Estudos Estratégicos (CSIS), com sede em Washington.

Após a publicação em fevereiro de uma ordem executiva do presidente americano Joe Biden com o objetivo de controlar as cadeias de abastecimento de bens considerados “essenciais”, o Senado adotou na terça-feira um texto que prioriza a extração dos chamados “minerais críticos”.

Washington quer “aumentar a produção e o refino”, disse a vice-diretora do Conselho Econômico Nacional, Sameera Fazili, citando terras raras e lítio.

A principal esperança americana está na mina de Mountain Pass, na Califórnia.

Três novos minerais terras raras descobertos no Brasil – AUN – Agência  Universitária de Notícias

Rochas com minerais terras raras que serão analisadas por Daniel Atencio. Foto: Giovanna Simonetti

Depois de ser um dos maiores atores globais do setor, sofreu com a ascensão da China, que subsidiou fortemente sua indústria, e com as regulamentações ambientais sobre a mineração.

A companhia MP Materials, que reativou a mina em 2017, agora quer simbolizar o novo impulso americano no setor, apostando na concentração de terras raras “entre as mais altas do mundo” em seu solo, com 7% ante entre 0,1% e 4% em outros lugares, segundo ela.

Quanto ao refino, pretende iniciar o seu processo de “separação” dos elementos – a rocha é constituída por um conjunto de terras raras que devem ser separadas por um processo químico – e depois fabricar os seus próprios ímanes em 2025 – a etapa da fase de separação para um produto que pode ser usado diretamente na indústria – duas etapas que estão sendo realizadas atualmente pela China.

Outros projetos estão surgindo, como os do grupo australiano Lynas, que conquistou diversos contratos nos Estados Unidos, incluindo uma planta de refino no Texas para a indústria militar, com apoio do Pentágono.

Reciclagem

Na União Europeia, um plano para estabelecer prioridades para o Velho Continente será apresentado “nos próximos dias” à Comissão, disse Bernd Schäfer, director do EIT RawMaterials, um consórcio que visa apoiar projetos neste sector, numa conferência no início de junho.

“A Europa não tem muita escolha em termos de mineração, então terá que recorrer à importação de matérias-primas ou semirrefinadas e se tornar uma base de refino ou reciclagem”, explica David Merriman, especialista em baterias e veículos elétricos da consultoria Roskill.

A China deve se beneficiar de sua posição dominante por muito tempo, mas as ambições existem: “20-30% das necessidades de ímã em 2030 podem vir do continente, contra praticamente zero hoje”, graças à reciclagem, se os projetos identificados forem realizados, observou Schäfer.

Por coincidência ou não, o desejo de acelerar essas questões surge em um momento em que o planeta vive uma escassez de semicondutores, componentes essenciais para qualquer produto que inclua elementos eletrônicos, de computadores a automóveis, fabricados principalmente na Ásia.

“Esta crise levou a um repensar das cadeias de produção e vulnerabilidades” entre os fabricantes, explicou à AFP um porta-voz da MP Materials.

Vários grupos europeus especializados em energia eólica e automotiva já estão em contato com a empresa, disse.

“Em cinco anos, os ímãs permanentes ocuparão um lugar semelhante aos semicondutores.

Eles estarão no dia a dia de todos”, acrescentou.

 

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