Por José Tadeu Arantes - Agência FAPESP - 31 de outubro de 2024 - Estratégia…
Um terço do solo do planeta está severamente degradado
“É preciso 500 anos para construir dois centímetros de solo vivo
e apenas segundos para destruí-lo”
(Stephen Leahy, 2013)
Um terço do solo do Planeta está severamente degradado e o solo fértil está sendo perdido a uma taxa de 24 bilhões de toneladas por ano, de acordo com o estudo “Perspectiva Global de la Tierra (GLO)”, apoiado pela Secretaria da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas, em colaboração com sócios colaboradores.
O estudo “Perspectiva Global de la Tierra” (2017) é considerado o estudo mais abrangente deste tipo, mapeando os impactos interligados da urbanização, mudanças climáticas, erosão e perda de florestas. Mas o maior fator de degradação é a expansão da agricultura industrial.
O declínio alarmante da qualidade dos solos deve continuar à medida que aumenta o número de habitantes e o nível de renda da população mundial – o que eleva a demanda de alimentos e a demanda por terra produtiva. Aumento da demanda com redução da oferta, aumenta os riscos de conflitos, como os vistos no Sudão, no Chade e em outras regiões do mundo.
O cultivo pesado, as colheitas múltiplas e o uso abundante de agrotóxicos químicos aumentaram os rendimentos no curto prazo, em detrimento da sustentabilidade a longo prazo. Nos últimos 20 anos, a produção agrícola aumentou três vezes e a quantidade de terras irrigadas dobrou, observa o relatório. Ao longo do tempo, a sobre-exploração dos solos diminui a fertilidade e pode levar ao abandono da terra e, finalmente, à desertificação.
O relatório observou que a diminuição da produtividade pode ser observada em 20% das terras cultivadas do mundo, 16% das terras florestais, 19% das pastagens e 27% das pastagens. A agricultura industrial é boa para atender a demanda por alimentação humana, mas não é sustentável.
A degradação dos solos varia de região para região. A má gestão da terra na Europa representa cerca de 970 milhões de toneladas de perda de solo por erosão a cada ano, com impactos não apenas na produção de alimentos, mas também na biodiversidade, na perda de carbono e na resiliência de desastres. Os altos níveis de consumo de alimentos em países ricos, como o Reino Unido, também são um dos principais impulsionadores da degradação.
Porém, o pior impacto acontece na África subsaariana, onde há o maior crescimento demográfico do mundo, as maiores taxas de pobreza e o maior número de pessoas passando fome no mundo. E o futuro do continente pode estar comprometido em decorrência da degradação ambiental, da perda de biodiversidade e dos danos às terras aráveis e à produção de comida. A recomendação básica é que os governos africanos e os doadores internacionais invistam na gestão da terra e do solo, criando incentivos sobre os direitos à terra, seguras para incentivar o cuidado e a gestão adequada dos terrenos agrícolas.
O declínio da produtividade dos solos acontece no contexto de uma crise hídrica. 40% dos africanos (mais de 330 milhões de pessoas) não têm acesso à água potável, e metade das pessoas que vivem em áreas rurais não tem acesso. O problema mais grave é na África subsaariana, onde mais de 320 milhões de pessoas não têm acesso. A África subsaariana foi a única região do mundo que não atingiu as metas dos objetivos de desenvolvimento do milênio (ODM).
Outro fator que agrava a situação dos solos e ameaça a produção de alimentos é o aquecimento global e as ondas de calor que alteram a estabilidade e a normalidade dos períodos de chuva. Os eventos climáticos extremos são muito prejudiciais à agropecuária. A pecuária contribui muito para o desmatamento e é grande emissora de gás metano, que é mais de 20 vezes mais poluente do que o CO2.
Cuidar dos solos é fundamental para o futuro da produção de alimentos. Mas, também, o solo pode absorver grandes quantidades de carbono, perdendo apenas para os oceanos. Ao contrário, a erosão libera carbono no ar. Por isto, é urgente adotar boas práticas e decrescimento das atividades antrópicas, para que a terra seja um lugar seguro. O reflorestamento com espécies nativas e o crescimento das plantas podem recuperar os terrenos, sequestrar carbono e liberar oxigênio. A recuperação dos solos passa também pela permacultura, a agricultura orgânica, por uma dieta mais vegetariana e um redimensionamento da sobrecarga ambiental da economia e da população mundial.
Referências
Ian Johnson y Sasha Alexander. Perspectiva Global de la Tierra (GLO), UN, 2017.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.
Fonte – EcoDebate de 22 de setembro de 2017
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