Por Pedro A. Duarte - Agência FAPESP - 12 de novembro de 2024 - Publicado…
Visão Ambiental Da Produção Orgânica, Parte 3/3
As substâncias químicas dos agrotóxicos também são consideradas poluentes. Sabe-se que apenas 3% dos agrotóxicos pulverizados atingem o seu alvo e os demais permanecem como resíduos nos produtos e são levados pela deriva ou caem no solo. Produzindo eutrofização, após serem lixiviados dos solos e levados para os corpos de água.
Cultivos orgânicos tendem a não produzir eutrofização dos mananciais hídricos. Eutrofização é o fenômeno ou processo no qual o excesso de nitratos e fosfatos, devido ao uso intensivo de adubos solúveis aplicados nas lavouras, são carregados até rios e lagos pela chuva.
Outra forma de contaminação das águas é a lavagem de embalagens e tanques de pulverização de agrotóxicos e adubos foliares junto às fontes de água.
Quando esses resíduos são despejados diretamente no solo, geram contaminação em profundidade e atingem os lençóis de água. O conteúdo de fungicidas e adubos foliares se acumula nas cadeias alimentares, contaminando solos, flora e fauna.
O uso e manejo inadequado do solo levam a perda da capacidade de exercer suas funções como meio adequado de crescimento das plantas, regulador do regime hídrico e filtro ambiental.
São formas de degradação, a perda do solo por erosão, a destruição da estrutura, compactação ou pulverização dos agregados. O preparo intensivo do solo ou uso de equipamentos inadequados são outros fatores degradantes do solo.
A laterização consiste na elevada concentração de hidróxidos de alumínio, ferro e manganês no solo, formando uma crosta dura e ferruginosa, conhecida como laterita, devido à lixiviação e lavagem de nutrientes.
As plantas protegem o solo das chuvas, da perda de umidade e evitam altas temperaturas. As folhas da cobertura vegetal impedem que a água da chuva caia diretamente sobre o solo e suas raízes ajudam a fixá-lo, evitando erosão.
As matas mantém a reposição de minerais e matéria orgânica no solo. O desmatamento tem provocado aceleração do processo erosivo e o empobrecimento do solo devido a lavagem pelas chuvas dos minerais solúveis, como o nitrogênio, cálcio, magnésio e fósforo.
As coberturas vegetais desempenham um papel importante no equilíbrio das águas do solo, pois permitem que grande parte da chuva infiltre no solo e abasteça o lençol freático, contribuindo para a estabilidade dos fluxos dos rios superficiais e fornecimento de água para a agricultura, indústria e residências.
Sem essas coberturas, um grande volume de terra seria carregado pelas enxurradas até os cursos d’água, provocando seu assoreamento, que aumenta a largura do rio e diminui a sua profundidade, reduzindo sua capacidade de armazenar água.
A degradação química do solo é originária principalmente do manejo incorreto da irrigação, do despejo de dejetos minerais e orgânicos, da aplicação de fertilizantes e defensivos, além do excessivo manejo do solo.
A degradação química é a modificação do equilíbrio mineral do solo, redução da capacidade de troca catiônica, aumento da salinização ou alcalinização, da acidez, da toxicidade de alumínio e manganês, da deficiência de nutrientes, além do acúmulo de substâncias tóxicas que influenciam negativamente a saúde das plantas, animais e do homem.
A eliminação da cobertura vegetal e a perda da capacidade de reciclagem da biomassa resultam na degradação biológica, que ocorrem por redução do conteúdo de matéria orgânica e diminuição da atividade e diversidade da fauna do solo.
O uso de fungicidas, nematicidas e fumigantes, utilizados para combate de patógenos, podem afetar também os microrganismos benéficos, como os que promovem a fixação do nitrogênio atmosférico e a mineralização do nitrogênio, reduzindo o potencial de manutenção da fertilidade do solo.
A biologia é uma ciência fundamental nos estudos ambientais e favorece a aplicação de modelos para diagnósticos e prognósticos de situações através de modelos que desenvolve a partir da definição de relações hierárquicas. Não se pode reduzir as funcionalidades ecossistêmicas de todos os organismos.
Ecossistema é qualquer unidade que abranja todos os organismos que funcionam em conjunto em uma determinada área de espaço físico. E que interajam com o ambiente com fluxos de matéria e energia que produzam estruturas bióticas definidas e ciclagem de materiais entre as partes vivas e não vivas.
O uso de agroquímicos pode extinguir determinadas espécies de insetos comprometendo toda a cadeia alimentar, desequilibrando o ecossistema local.
Tratado com restrições pelos produtores há alguns anos, o cultivo orgânico passa atualmente a ser visto como um mercado favorável e rentável.
Com a divulgação de que algumas doenças estão ligadas ao consumo de alimentos contaminados por agroquímicos os consumidores estão cada vez mais exigentes, gerando uma forte demanda por alimentos orgânicos.
Aliado a este fator, a preocupação na produção sustentável de alimentos tem contribuído para a adesão dos produtores a este sistema de produção.
Diante do exposto, além de oferecer produtos saudáveis, livres de resíduos de produtos químicos, devem ser considerados os benefícios ambientais da produção de alimentos orgânicos.
Na agricultura orgânica, a ciclagem de nutrientes é muito mais eficiente quando comparada à tradicional, além disso, a biodiversidade do local é maior, diminuindo os impactos e mantendo o equilíbrio da natureza.
Outros fatores importantes são a eliminação da probabilidade de contaminação do solo, da água e dos animais pelo uso agroquímicos e a possibilidade de aproveitamento dos resíduos agroindustriais como vinhaça, torta de filtro, cascas e polpas de frutas e urbanos como lodo e resíduos sólidos orgânicos, na adubação das lavouras.
Referências
DAROLT, M. R., Agricultura Orgânica: inventando o futuro. Londrina: IAPAR, 2002, 250p.
PENTEADO, S.R. Manual prático de agricultura orgânica: fundamentos e técnicas. Campinas: Edição do autor. 2009. 213p.
SANTOS, Neli Cristina Belmiro dos e MATEUS, Gustavo Pavan, VISÃO AMBIENTAL DA PRODUÇÃO ORGÂNICA DE ALIMENTOS, ISSN 2316.5146, Pesquisa & Tecnologia, vol. 9, n. 2, Jul-Dez 2012
http://www.aptaregional.sp.gov.br/acesse-os-artigos-pesquisa-e-tecnologia/edicao-2012/julho-dezembro-2/1300-visao-ambiental-da-producao-organica-de-alimentos/file.html
Fonte – Roberto Naime, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale, EcoDebate de 09 de setembro de 2016
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